HERÓIS
DA FÉ
Rev.
Eurípedes da Conceição
(clique aqui para baixar este texto)
/
(texto de ontem)
/ SEÇÃO DE ARTIGOS
Hebreus 11.
1-4
Às vezes, tenho a ligeira impressão que a história
me pregou uma peça ao não permitir que eu participasse
das vidas de outras pessoas e que estas não participassem
da minha vida. Eu quisera poder retornar no tempo e assentar-me
aos pés de Abel, Enoque e Abraão para aprender
com eles, através do seu exemplo de vida e integridade,
as mais sublimes lições de fé e esperança.
Eu quisera entrevistar José, o filho de Jacó e
Raquel; aquele que, pela fé, migrou de uma cisterna fria
para o palácio de Faraó. Eu quisera também
caminhar pelas estradas poeirentas da Palestina e reconstituir
os passos de Jesus e seus discípulos. Eu quisera participar
das dores de Pedro, da aflição de Tiago e da alienação
de Tomé, testemunhando in loco a transformação
de suas vidas.
Eu quisera mais... quisera subir o Calvário ao lado de
Simão, o Cireneu, e ajudá-lo a carregar a cruz
para aliviar o sofrimento do meu Mestre, Jesus! Ah! Como eu
quisera ter caminhado ao lado desses heróis da fé
e ter aprendido com eles a construir a "estrada para o
futuro!”
Vivemos em um tempo de escassez de heróis; tempo em que
as pessoas têm procurado heróis nas bancas de jornal
e prateleiras de supermercados.
Os heróis da fé se distinguem desses heróis
factóides. São homens e mulheres que constroem
e pavimentam a "estrada da fé". Mas qual o
perfil ou estereótipo daqueles que devem ser classificados
como verdadeiros heróis da fé?
1. Os legítimos
heróis da fé são aqueles que firmam um
pacto com a esperança.
Somente aqueles que carregam em seus corações
uma reserva inesgotável de esperança podem ser
considerados dignos de ser chamados de heróis da fé.
Em Hebreus 11. 1 está escrito que "a fé é
a certeza das coisas que se esperam". Aquele que espera
nutre a esperança em obter aquilo que é desejado.
O profeta Jeremias, no ápice de sua lamentação,
bradou: "Quero trazer à memória o que me
pode dar esperança" (Lm 3. 21). Povo de Deus, não
se esqueça disso: Os verdadeiros heróis da fé
são homens e mulheres cujas memórias estão
comprometidas com a esperança!
2. Os legítimos
heróis da fé são aqueles que têm
consciência da transitoriedade de sua missão.
Eles admitem a fugacidade da vida ao confessarem que são
"estrangeiros e peregrinos sobre a terra" (Hb 11.
13b). Eles aspiram a uma pátria superior que é
a celestial. Não olham para trás porque acreditam
no seu projeto de vida. Sabem que a sua vida é passageira
e não podem perder tempo com coisas irrelevantes e sem
valor.
3. Os legítimos
heróis da fé são aqueles que, por sua fé,
obtêm bom testemunho.
O texto de Hebreus 11. 2 diz que "pela fé, os antigos
obtiveram bom testemunho". Significa que as suas ações
são mencionadas, seus exemplos são citados, sua
conduta é imitada, seus feitos se tornam célebres,
sua bravura é reconhecida.
Em Hebreus 11. 33-39, o autor transforma em crônica os
atos de bravura dos heróis da fé citados na Escritura
Sagrada. Diz o texto que "por meio da fé, subjugaram
reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam
a boca de leões, extinguiram a violência do fogo,
escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força,
fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos
de estrangeiros, mulheres receberam, pela ressurreição
os seus mortos. Alguns foram torturados, não aceitando
seu resgate, para obterem superior ressurreição;
outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios
e açoites, sim, até de algemas e prisões.
Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio
de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas
e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados (homens dos
quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos,
pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra”.
O texto encerra dizendo que "todos estes obtiveram bom
testemunho".
4. Os verdadeiros heróis da fé são aqueles
que, a exemplo de Abel, mesmo depois de mortos ainda falam (Hb
11. 4b).
Toda pessoa que passa por nossa vida não passa sozinha
nem nos deixa só. Ela leva um pouco de nós e deixa
sempre um pouco de si. Os heróis da fé têm
esse perfil. São pessoas amáveis e carinhosas
que se entregam dando o melhor de si, e que têm sempre
um lugar especial em nossas mentes e corações.
Eles nos ensinam a viver a vida com dignidade e iluminam os
caminhos obscuros para que possamos trilhá-los sem medo
e cheios de esperança. Elas se doam por completo e, muitas
vezes, renunciam aos seus próprios sonhos para que possamos
realizar os nossos.
Os
heróis mencionados no capítulo 11 da Epístola
aos Hebreus marcaram as páginas da Escritura Sagrada.
Existem heróis que marcam as páginas de nossas
vidas. Eles entram em nossas vidas sem pedir licença,
subjugam os nossos corações, e saem sem qualquer
despedida. A história do presbiterianismo está
eivada de heróis desse tipo: Simonton, Schneider, Blackford,
José Manuel da Conceição, Álvaro
Reis, Erasmo Braga, Mathatias, Benjamin Morais, Júlio
de Andrade, Amantino Adorno Vassão... infelizmente não
tive o privilégio de conhecer nenhum deles pessoalmente!
Mas conheci um que arrebatou o meu coração. Seu
nome era Zaqueu Ribeiro. Ele era muito especial! Ele foi um
dos heróis que me permitiram driblar a História!
Retórico brilhante, de mente cartesiana e raciocínio
lógico, ele alternava entre a erudição
e a simplicidade, a realidade e o sonho. Sua presença
era inspiradora, seu silêncio, pedagógico. Quando
olhava à minha direita, lá estava o ancião
que sem falar, apenas com um semblante grave e reverente, expressava
um imperativo de encorajamento: "Vá em frente. Eu
estou aqui para apoiá-lo". Sentia-me mais seguro
quando ele se assentava comigo ao púlpito. Pena que só
convivi com ele durante um ano! Mas valeu a pena! Quando dele
nos despedimos, lembramo-nos da sua célebre "Oração
da Noite", a qual compôs ainda em vida: "Boa
noite, Pai. Termina o dia e a Ti entrego meu cansaço.
Obrigado pela luz do dia em que caminhei; obrigado pelo pão
que me alimentou; obrigado pelo serviço que realizei.
Obrigado pela alegria de viver, pela esperança que me
estimulou, pela segurança diante das batalhas, pela fé
que me sustenta em Ti. Obrigado porque povoaste meu coração
de gente que eu amo, que me põe de joelhos em prece intercessória.
Obrigado pelo lar que me faz família e pela Igreja que
me faz Teu povo. Obrigado... obrigado... obrigado... é
tudo”.
Neste
momento, gostaríamos que ele estivesse aqui. Entretanto,
dele resta a saudade, a lembrança de sua imagem e do
som de sua voz que preenchem o vazio que ficou em seu lugar.
Mas o que nos conforta é sabermos que este verdadeiro
herói da fé está ao lado de Deus e feliz
por ter cumprido sua missão.
(Sermão
proferido pelo Rev. Eurípedes da Conceição,
pastor efetivo da Igreja Presbiteriana da Tijuca, no Culto Matutino
do dia 03 de fevereiro de 2002, como tributo ao Rev. Zaqueu
Ribeiro). |