BREVE RELATO DA MODERNIDADE

Rev. Brian Gordon Lutalo Kibuuka

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É costume, quando uma criança nasce, guardar a data e a hora do seu nascimento para a comemoração dos seus aniversários. Através do registro em cartório, é possível certificar-se de que esta pessoa nasceu em um lugar, uma data e uma hora específica. Da mesma forma, alguns historiadores procuram, pela observação dos registros históricos, certificar-se do nascimento de fases, movimentos, períodos, revoluções... Isto,de forma alguma, é dispensado, a não ser que a experiência historiográfica seja destituída de profundidade e coerência com seu elemento primário: os eventos, os fenômenos históricos. Porém, a profundidade não advém dos fatos, mas da observação dos ciclos, das fases, movimentos, períodos, revoluções... e isto do seu nascimento até o ocaso.

Para compreender, por isto, a modernidade, é preciso entender que esta nasceu nos escombros da Idade Média. O nome “modernidade” é a menção dada a uma série de transformações ocorridas a partir da decadência do status quo medieval.

A gestação da modernidade foi longa, mas seu alvorecer se deu no iluminismo, após a Guerra dos Trinta Anos. A modernidade constitui-se, por isto, como uma “sociedade influenciada pelas idéias iluministas”.

Os ideais iluministas têm como centro e principal vertente a fé na razão. Não é mera crença nos poderes da razão humana, mas uma concepção muito mais profunda: para os iluministas, toda a população deveria ser iluminada (ou esclarecida) para que a sociedade vivesse melhor. A educação institucionalizada, já presente na Idade Média, foi desenvolvida, em particular a pedagogia. O advento das enciclopédias representa o surgimento de uma concepção epistemológica nova: o conhecimento humano, sistematizado, catalogado e condensado, produz liderdade, igualdade e emancipação. A contribuição desta mentalidade para a modernidade é crucial, pois o progresso da sociedade na modernidade está indissoluvelmente conectado ao conhecimento adquirido e à razão.

O cientificismo decorre desta compreensão de progresso, pois a ciência aplicada à humanidade redunda em progresso. A ciência é tida, na modernidade, como fonte revelatória e força onipotente, ilimitada em sua possibilidade de gerar o bem estar humano e a sociedade ideal. A compreensão da elevação dos padrões vivenciais está ligada, na modernidade, ao desenvolvimento científico.

Outro elemento que marca a modernidade, decorrente do iluminismo, é a aceitação da experiência dos sentidos e da razão como meios de obtenção de um conhecimento exato e objetivo. O uso da razão gera, para muitos dos pensadores da modernidade, o progresso e a libertação social. Baudelaire escreveu, sobre isto, que ”a modernidade é o transitório, o fugidio, o contingente, a metade da arte, da qual a outra metade é o eterno e o imutável”.

Na mente moderna, o escrutínio da razão proporcionava a mentalidade de que as verdades e conceitos estavam presentes em todas as suas manifestações, podendo ser apreendidos pela experiência e completamente descritos pela razão, por meio da linguagem. A sensação de que o ser humano é a medida de todas as coisas, e ao mesmo tempo cada um, dotado deste valor, deveria ser respeitado, era a marca preponderante.

As vantagens desta mentalidade podem ser contempladas até hoje: a crença no potencial humano proporcionou, de fato, crescimento econômico, social, político, tecnológico. A expressão religiosa adquiriu o caráter imanente que necessitava, em contraste com a espiritualidade medieval. A emergência de desdobramentos na filosofia, e o surgimento de ciências e lócus autônomos, demonstram a simpatia pela profundidade na observação e na objetividade do conhecimento.

A falência da modernidade foi decorrente das suas principais manifestações e estímulos. No campo filosófico, Emmanuel Kant apresentou o principal questionamento às teses que apregoavam a absolutidade da razão, principalmente o racionalismo cartesiano e a filosofia de John Locke. As teses de Kant apresentavam o ser humano não mais como construtor de conhecimentos pela razão, mas intérprete da realidade a partir de suas manifestações racionais subjetivas e particulares. As categorias de Kant, em contraste com as categorias objetivas do empirismo, representam duas objeções quanto à epistemologia moderna. A primeira é a negação do caráter absoluto da experiência dos sentidos na obtenção dos conhecimentos (empirismo psicológico), pois os dados da sensibilidade, para Kant, são insuficientes por si, necessitando de elementos preexistentes no espírito humano. A segunda é a negação da recorrência aos sentidos para a prova dos conhecimentos (empirismo epistemológico), pela mesma razão da negação do caráter suficiente da experiência. A modernidade, diante do criticismo kantiano, encontrou seu ocaso filosófico. O ocaso histórico foi uma questão de tempo.

 

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